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3 documentários dirigidos por mulheres

Essa semana vamos falar um pouco de documentários dirigidos por mulheres.

A presença e o reconhecimento de diretoras ainda está muito longe de ser igualitária, mas tem melhorado um pouco nos últimos anos, principalmente se considerarmos a produção de documentários.

Apenas como exemplo, dos últimos 5 indicados a melhor documentário no Oscar, 4 deles foram dirigidos, ou co-dirigidos, por mulheres. Isso pode ser um indicativo de que estamos na direção certa, mas o caminho a percorrer ainda é bastante longo.

Além de serem dirigidos por mulheres, os 3 documentários indicados aqui tem outra coisa em comum: são protagonizados por três mulheres de países e culturas diferentes, mas que compartilham de um mesmo senso de questionamento, de luta e de inquietação:

 

One Child Nation (Jialing Zhang e Nanfu Wang, 2019) – disponível na Amazon Prime Video

De 1979 a 2015 foi imposta pelo governo chinês a Política do Filho Único, uma forma radical de supostamente controlar o crescimento populacional desenfreado do país.

One Child Nation, vencedor do grande Prêmio do Júri de Documentário em Sundance 2019, trata do enorme impacto que essa política teve e continua tendo em sua população.

Através de relatos que passam pela revolta, angústia, arrependimento e alienação (apenas para citar alguns), a diretora constrói um complexo mosaico do pensamento atual sobre o que aconteceu por mais de 30 anos dentro do país, assim como o enorme peso que muitos carregam por conta disso.

Apesar de funcionar como um retrato do maniqueísmo criado pela propaganda política, da suposta superioridade do bem comum em detrimento do bem individual (qualquer semelhança com o Brasil de hoje não é mera coincidência), o filme perde um pouco de sua força quando a diretora volta seus olhos para os EUA, onde atualmente mora, e acaba inevitavelmente engrandecendo a “liberdade” vivida dentro do país.

De qualquer forma, o tom de denúncia, assim como algumas imagens e depoimentos chocantes sobre tráfico de crianças, abandono de fetos e indução de abortos, valem como lembrete de que os interesses do estado não podem ser maiores que o direito que cada cidadão tem sobre o seu corpo, seja na China, seja no Brasil, seja aonde for.

 

Laerte-se (Lygia Barbosa, Eliane Brum, 2017) – disponível na Netflix

Primeiro documentário brasileiro produzido pela Netflix, Laerte-se acompanha um pouco da vida da cartunista e chargista Laerte Coutinho, que em 2009 (então com 58 anos) assumiu sua transgeneridade. Desde então, ela se tornou uma das vozes representativas do tema no Brasil, tendo ajudado a criar a Associação Brasileira de Transgêneros (ABRAT) em 2012, e vendo sua vida pública como foco constante da mídia.

Podemos assumir que de uns 10 anos para cá, o tema vem ganhando cada vez mais relevância midiática, e é fascinante perceber como a própria Laerte se questiona constantemente e se coloca “sob um guarda-chuva que inclui a travesti, o crossdresser, a drag queen, o drag king”, e que se sente feliz com isso.

Através de uma série de conversas com Laerte, e tendo como cenário principal sua própria residência, o filme tem grande força na intimidade criada pelo uso desse espaço e pela proximidade com sua protagonista.

De forma inteligente, o documentário se utiliza de diversas tirinhas feitas pela artista e de seus próprios questionamentos para fazer com que o espectador também se questione, o que pode causar certo desconforto junto aqueles que acreditam já ter uma opinião certa e formada em torno do assunto.

Se não for o seu caso, dê o play e Laerte-se!

 

What Happened, Miss Simone? (Liz Garbus, 2015) – disponível na Netflix

Lembro que quando esse filme entrou no catálogo da Netflix, fiquei com muita vontade de assistir, mas o tempo foi passando e acabei deixando passar. 

Acredito que isso acontece com muitos filmes, e nesse caso específico fico muito feliz em ter me lembrado de finalmente ver What Happened, Miss Simone?.

Nunca fui um grande fã de cinebiografias, pois acredito que geralmente fazem um recorte muito específico e limitante do tema, apenas para provar um ponto de vista já bem claro para seu realizador ou realizadora. Isso, de certa forma, também se aplica ao filme sobre Nina Simone, mas nesse caso a diretora sabe que tem em mãos a história de umas das maiores cantoras da história, e faz jus a esse material.

Não vou contar muitos detalhes da vida da artista para não estragar a surpresa de quem, como eu, não sabia quase nada sobre ela. Basta dizer os vídeos raros de apresentações da cantora contém uma aura quase mística, e que são suficientes para justificar a existência do projeto.

Como se não bastasse isso, os depoimentos que conduzem a história são reveladores e não-piegas, e acrescentam enormes nuances na tentativa de tentar entender quem de fato era Nina Simone: mulher, ativista, poeta e imortal. Pelo menos enquanto sua música ecoar em nossos ouvidos.

Existe algum tema que você quer ver por aqui? Me conta!

Até semana que vem 🙂

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